quinta-feira, 10 de julho de 2008

Uma Palestra extrafísica

Nos vários livros do espírito André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier, há muitas referências à projeção da consciência (chamada por ele de desprendimento espiritual). Principalmente no excelente livro "No Mundo Maior", onde há um trecho muito importante para quem está estudando a projeção nos dias de hoje. Trata-se de uma verdadeira aula que o espírito Calderaro dá a André Luiz sobre o trabalho dos amparadores extrafísicos com os projetores durante o sono. Embora esse material tenha sido escrito em 1947, ele está plenamente coerente com tudo o que já sabemos sobre o assunto atualmente. Na verdade, acredito que esse texto tenha sido escrito visando os estudantes espiritualistas do futuro (que é agora), pois naquela época quase ninguém entendia bem as experiências extracorpóreas. Baseado nisso, achei interessante para a análise do leitor, reproduzir algumas partes desse texto tão importante. "No Mundo Maior" (Edição da Federação Espírita Brasileira; 2ª ed.; p. 11-16): "O vento passava cantando, em surdina; no recinto iluminado de claridades inacessíveis à faculdade receptiva do olhar humano, aglomeravam-se algumas centenas de companheiros, temporariamente afastados do corpo físico pela força liberativa do sono. Amigos de nossa esfera atendiam-nos com desvelo, mostrando interesse afetivo, prazer de servir e santa paciência. Reparei que muitos se mantinham de pé; outros, contudo, se acomodavam nas protuberâncias do solo alcatifado de relva macia, em palestra grave e respeitosa. Ambientando-me para aquela hora de extrema beleza espiritual, Calderaro avisou-me: - Na reunião de hoje, o Instrutor Eusébio receberá estudantes do espiritualismo, em suas correntes diversas, que se candidatam aos serviços de vanguarda. - Oh! - exclamei, curioso - Não se trata, pois de assembléia, que agrupe indivíduos filiados indiscriminadamente às escolas da fé? O assistente esclareceu de pronto: - A medida não seria aconselhável no círculo de nossa especialidade. O Instrutor afeiçoou-se ao apostolado de assistência à criaturas encarnadas e a recém-libertas da zona física, em particular, precisando aproveitar o tempo com as horas de preleção, para o máximo de aproveitamento. A heterogeneidade de princípios em centenas de indivíduos, cada qual com sua opinião, obrigaria a digressões difusas, acarretando condenáveis desperdícios de oportunidades. Fixou a multidão demoradamente, e acrescentou: - Temos aqui, em cálculo aproximado, mil e duzentas pessoas. Deste número, oitenta por cento se constituem de aprendizes dos templos espíritualistas, em seus ramos diversos, ainda inaptos aos grandes vôos do conhecimento, conquanto nutram fervorosas aspirações de colaboração no Plano Divino. São companheiros de elevado potencial de virtudes. Exemplificam a boa vontade, exercitam-se na iluminação interior através de esforço louvável; contudo, ainda não criaram o cerne da confiança para uso próprio. Tremem ante as tempestades naturais do caminho e hesitam no círculo das provas necessárias ao enriquecimento da alma, exigindo de nós particular cuidado, pois que, pelos seus testemunhos de diligência na obra espiritualizante, são os futuros instrumentos para os serviços da frente. Apesar da claridade que lhes assinala as diretrizes, ainda padecem desarmonias e angústias, que lhes ameaçam o equilíbrio incipiente. Não lhes falece, porém, a assistência precisa. Instituições de restauração de forças abrem-lhes as portas acolhedoras em nossas esferas de ação. A libertação pelo sono é o recurso imediato de nossas manifestações de amparo fraterno. A princípio, recebem-nos a influência inconscientemente; em seguida, porém, fortalecem a mente, devagarinho, gravando-nos o concurso na memória, apresentando idéias, alvitres, sugestões, pareceres e inspirações beneficientes e salvadoras, através de recordações imprecisas. Fez breve pausa e concluiu: - Os demais são colaboradores de nosso plano em tarefa de auxílio. A organização dos trabalhos era digna de sincera admiração. Estavamos num campo substancialmente terrestre. A atmosfera, impregnada de aromas que o vento espargia em torno, recordava-me o lar na Terra, contornado de seu jardim, em noite cálida. Que teria eu realizado no mundo físico se recebesse, em outro tempo, aquela bendita oportunidade de iluminação? Aquele punhado de mortais, sob os raios da Lua, afigurou-se-me assembléia de privilegiados, favorecidos por celestes numes. Milhões de homens e mulheres a dormir em cidades próximas, algemados aos interesses imediatos e ansiando a permuta das mais vis sensações, nem de longe suspeitariam a existência daquela original aglomeração de candidatos à luz íntima, convocados à preparação intensiva para incursões mais longas e eficientes na espiritualidade superior. Teriam a noção do sublime ensejo que lhes aprazia? Aproveitariam a dádiva com suficiente compreensão dos valores eternos? Marchariam desassombrados para a frente, ou estacionariam ao contato dos primeiros óbices, no esforço iluminativo?" Ainda no mesmo texto, um pouco mais a frente (pág. 17-33), há uma palestra do instrutor Euzébio para os projetores ali presentes. Há um trecho onde ele diz o seguinte: "Enquanto vossa organização fisiológica repousa à distância, exercitando-se para a morte, vossas almas quase libertas partilham conosco a fraternidade e a esperança, adestrando faculdades e sentimentos para a verdadeira vida. Naturalmente, não podereis guardar plena recordação desta hora, em retomando o envoltório carnal, em virtude da deficiência do cérebro, incapaz de suportar a carga de duas vidas simultâneas; a lembrança de nosso entendimento persistirá, contudo, no fundo de vosso ser, orientando-vos às tendências superiores para o terreno da elevação e abrindo-vos a porta intuitiva para que vos assista nosso pensamento fraternal."

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